sexta-feira, 8 de março de 2013

8 de Março: A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher




Testemunha ocular de como movimentos sociais, altamente ideologizados, são capazes de forjar datas de celebração e eventos “históricos”, fiquei obviamente com dois pés atrás no que se refere a todas as datas de comemoração, entre outros, do movimento feminista ou de mulheres. Quem me garante que outras datas não foram também fabricadas como uma que eu vi “nascer”?

Nessas, resolvi revisitar o dia 8 de março, o bem conhecido Dia Internacional da Mulher, data que já foi de luta e hoje se parece mais com o dia das mães, quando as mulheres recebem flores e presentes, por supostas características intrínsecas a todas as mulheres, e descontos em muitos produtos.
E, como desconfiava, fui logo encontrando outra história mal-contada. Essa pelo menos parece ter sido fabricada mais pela simples imaginação, embora não falte igualmente a conotação ideológica, do que por má-fé deliberada como outras. Não esquecendo, contudo, que seu resgate atual já não anda também cheirando muito bem.

A história que sempre me contaram e que inclusive repassei como verídica, nos meus tempos de Jardim do Éden, para a origem do 8 de março, era aquela das operárias que haviam sido queimadas vivas, quando resolveram fazer greve por melhores condições de trabalho, na fábrica onde ralavam, porque seus patrões, burgueses malvados, as trancaram no local e botaram fogo em tudo. Esse trágico evento teria acontecido, em Nova Iorque, no dia 8 de março de 1857. Posteriormente, na II Conferência Internacional das Mulheres Trabalhadoras (ou II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas), em Copenhague, em 1910, a social-democrata Clara Zetkin, em homenagem às pobres costureiras mortas no incêndio, decidiu definir a data da tragédia como Dia Internacional da Mulher. E daí por diante o dia teria tomado o imaginário popular.
Entretanto, tal história não corresponde aos fatos. Na década de 60, durante a chamada segunda onda do feminismo, quando as mulheres lograram produzir um grande movimento de reivindicações várias pela igualdade das mulheres, diferentes correntes do movimento feminista e de mulheres decidiram trazer de volta a idéia antiga, do início do século passado, de um dia internacional das mulheres. Parece que ninguém se deu ao trabalho, porém, de fazer uma pesquisa mais séria sobre as origens do dia referido, e o resultado foi uma espécie de “samba da crioula doida feminista” que misturou datas e eventos desconexos no tempo para produzir a história que ganhou às ruas e acabou até institucionalizada.


Recentemente, algumas pesquisadoras andaram se debruçando sobre a história, aquela com H maiúsculo geralmente tão vilipendiada, e descobriram, primeiro, que não houve um incêndio, em 8 de março de 1857, em um protesto de mulheres contra os donos da fábrica que reagiram de forma criminosa. O incêndio de fato ocorreu em 25 de março de 1911, numa fábrica de vestuário, em Nova Iorque, chamadaTriangle Shirtwaist Factory (Companhia de Blusas Triângulo), em razão das péssimas condições de segurança do local. Nele morreram 146 pessoas (125 mulheres e 21 homens), a maioria das moças, imigrantes judias e italianas, que trabalhavam horas a fio em troca de salários de fome. Após a tragédia, que chocou a cidade, houve passeatas de protesto, velórios emocionados, etc. e tal, mas não foi esse o fato que levou ao surgimento da idéia de um dia das mulheres.



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